Os textos publicados em “Cadernos de Formação” correspondem a partes dos trabalhos que os respectivos autores apresentaram para a conclusão de um dos semestres do Curso de Formação em Psicologia e Psicoterapia Existencialista, no que concerne às bases antropológicas ou teóricas do mesmo.
As aulas, ministradas pelo professor Pedro Bertolino, foram gravadas, transcritas e vieram constituir a fonte das exposições nos diversos capítulos assinados pelos respectivos alunos que, assim, ganharam crédito de co-autores, em obra coletiva. Cada volume abre com um artigo de lavra do professor e autor intelectual de fundo.
Ao mesmo tempo em que documentam a produção didática de conhecimento no referido curso, evidenciando o nível dos estudos, oferecem subsídios introdutórios à Psicologia Existencialista, tal como foi exclusivamente desenvolvida por Jean-Paul Sartre, nas décadas que se estendem de 1930 a 1970, redondamente.
A Personalidade
A Teoria Existencialista da Personalidade, desenvolvida por Jean-Paul Sartre, foi exposta inicialmente em “La Transcendance de L´Ego”, 1933/4, depois complementada em “L´’Être et le néant” (1943) e finalizada em “Critique de la Raison dialectique” (1960), mais o “Tome II” desta última, publicado em 1985, por cuidados de Arlette Elkaïm-Sartre, filha adotiva e herdeira do autor.
Ao longo de quatro décadas de pesquisas e verificações de hipóteses (1930/1970), Sartre constatou a transcendência ontológica entre consciência e personalidade. A consciência se evidenciou como pura intencionalidade ou plena abertura para a objetividade transcendente do mundo; e, por sua vez, a Personalidade se impõe a qualquer verificador experimental, como sujeito psicofisicamente objetivado entre as coisas e os outros. Daí, a possibilidade de verificar cientificamente todos os fenômenos psicológicos e psicopatológicos ou, como escrevia o próprio Sartre: esclarecer plenamente uma Personalidade, tal como ele mesmo o fez com a de Gustave Flaubert, em “L´Idiot de la famille” (1972).
Pedro Bertolino / 2004
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As Emoções
Depois de pesquisar sobre a personalidade, para conclusão de seu curso de pós-graduação no Instituto Francês de Berlim (1933/1934); também depois de dedicar os anos de 1935 e 1936 ao fechamento de suas pesquisas sobre “L’Imagination” e “L’Imaginaire”, iniciadas em 1928/1929 sob orientação do Dr. Lagache, para o concurso de “Agregation”; _Sartre concebeu ser possível concluir o Tratado de Psicologia Científica, que constatara necessário e a que se vinha dedicando desde os anos de 1927, com a participação de Simone de Beauvoir, em suas investigações. Então, deu-se à obra durante os anos de 1937 e 1938, havendo inclusive estabelecido para título “La Psyché”. Entretanto, topou com obstáculos de ordem Ontológica e Antropológica que precisavam ser resolvidos primeiro, para somente na seqüência ir à finalização de seu projeto. Por isso, passou às ´pesquisas que levaram ao “L’être et le néant”, aonde visivelmente aproveitou os resultados das investigações que empreendera anteriormente. Assim aconteceu de somente um fragmento de “La Psyché” vir à publicação com o título de “Esquisse d’une théorie des émotions”.
Pedro Bertolino / 2004
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O Imaginário
Enquanto concediam o prêmio Nobel de literatura a Leon Brwnsvick e Henry Bérgson, com o propósito visível de deter o pensamento marxista que lastrava como incêndio devorador nos meios acadêmicos franceses, Jean-Paul Sartre naqueles mesmos idos de 1927 absorvia-se todo no seu projeto de viabilizar e desenvolver uma Psicologia científica. Pretendendo fazer-se professor, como de fato o foi no Havre, inscreveu-se para o concurso de “Agrégation”, buscando o título de substituto de catedrático. Em 1928, fracassou na prova escrita, por defender idéias próprias; mas, em 1929, conquistou o primeiro lugar no mesmo concurso. O Professor H. Delacroix, que orientara a dissertação; posteriormente ou em 1934, dirigia a coleção “Nouvelle Encyclopédie Philosofique” para as edições “Alcan” e, então, solicitou ao ex-orientando, que preparasse o trabalho para publicação sob sua responsabilidade. Sartre prodfuziu uma obra de mais de seiscentas páginas, sob o título de “L´image” . A “Librairie Félix Alcan”, entretanto, editou somente a primeira parte do trabalho, intitulando-a “L´Imagination”, publicada em 1936, com 162 páginas. Dois anos mais tarde, 1938, veio a público mais um texto de Sartre sobre a problemática da imagem. Cuidava da “Structure intencionnelle de l´image” e apareceu ao nr. 4, ano 45, da “Revue de metaphysique et e morale”, ocupando as páginas compreendidas entre os nrs. 543 a 609. Este mesmo texto, então designado por “Le Certain”, viria constituir a primeira parte, páginas 09 a 76 de “L´Imaginaire: psychologie phenomenologique de l´imagination”, volume de “Bibliothèque de idées”, de Gallimard, em 1940: ganhando reedições pela mesma editora, na coleção “idées”, a partir de 1966, com 378 páginas. O volume “Imaginário”, publicado pelo NUCA, trata apenas em termos básicos e simplesmente introdutórios, dessa problemática da imagniação e do imaginário, muito demoradamnete trabalhada por Jea-Paul Sartre; além de corresponder a produção didática de conhecimento por seus autores na condição de alunos do Curso de Formação em Psicologia e Psicoterapia Existencialista , de onde os mesmos trouxeram o material para suas dissertações, inclusive as remissões e refrências bibliográficas.
Pedro Bertolino / 2004